Desde o início do ano, ações no mundo inteiro vêm celebrando o centenário de nascimento do maior cineasta sueco de todos os tempos, Ingmar Bergman. Curiosamente, um dos grandes presenteados nessa comemoração é o compositor brasileiro João MacDowell. É ele quem assina a adaptação musical para ópera do filme O Sétimo Selo (1957), considerado uma das obras mais importantes do diretor.
O espetáculo chega ao Brasil em novembro e marcará a estreia da partitura completa para orquestra de câmara. Segundo a produtora Clarice Goulart, da Associação Cultural Suécia-Brasil, citada pelo portal G1, serão três concertos no Conservatório de Tatuí (SP) e no Centro Cultural Baía dos Vermelhos, em Ilhabela (litoral paulista). MacDowell assume a regência e o sueco Bengt Gomér, a direção artística da ópera que reúne sete solistas suecos e um coro de dezesseis vozes, além de cinco instrumentistas.
Os suecos já tiveram uma pitada do que está por vir. Ao longo de uma série de apresentações em 2018, MacDowell mostrou trechos da obra em diferentes formatos. O compositor relembra com especial carinho do evento na abertura da Semana Bergman na ilha de Fårö, onde o cineasta viveu por 40 anos e rodou vários de seus filmes. “Fiz um solo de piano com temas da ópera na igreja onde Bergman está enterrado e terminei com um momento de integração com a plateia em que todos na igreja puderam cantar juntos frases da ópera”, conta em entrevista à Swedcham.
Houve ainda uma mostra da partitura vocal completa, executada por um coro de voluntários em Estocolmo. “Nossos concertos foram aplaudidos de pé e com manifestações emocionais muito tocantes de pessoas importantes da cultura que estavam em nossa plateia. Penso que foi um sucesso sobre todos os aspectos artísticos”, comemora.
MacDowell, inclusive, viveu em Fårö em duas oportunidades, em 2014 e 2015, experiência que foi de grande relevância para a composição da peça. “Eu não teria pensado em adaptar esse texto no idioma em que foi escrito se não estivesse lá, em contato direto íntimo com o material”, diz.
Por falar em idioma, essa questão foi apontada pelo compositor como o grande desafio de adaptar o filme clássico que conta a história de um cavaleiro cruzado que retorna para a Suécia enfestada pela Peste e enfrenta a Morte em um jogo de xadrez. “Meu sueco é básico”, diz. Para superar essa barreira, contou com o apoio de muita gente que ajudou a revisar o conteúdo, principalmente a divisão das sílabas junto com a música.
O público brasileiro poderá esperar um lindo espetáculo, mas ainda um passo atrás de toda a grandiosidade que pretende alcançar. “Nesse momento evitamos os cenários complicados ou figurinos elaborados. A encenação se resume aos corpos e às expressões dos artistas. Nos próximos anos faremos o desenvolvimento da ópera com esses outros elementos que integram um espetáculo visual completo”, diz o compositor.
Para ele, “essa é uma ópera sobre estar vivo em momentos difíceis, enfrentando a Morte, quando é difícil ter esperança na vida. Penso que esse é um tema fundamental para nossa época e para o Brasil”.